Dentro da prática clínica é muito comum se ouvir queixas dos pacientes sobre suas respectivas famílias. Algumas pessoas não satisfeitas com a que tem acham que se pertencessem ao ideal familiar de “comercial de margarina”, “bem estruturada”, normalmente na figura de família nuclear – pai, mãe e filho(s) – com seus papéis bem definidos, eles seriam mais felizes. Entretanto, esse tipo de família feliz é fantasiosa e não existe.
O conceito de família nuclear é socialmente construído. Esse modelo ainda é reproduzido e incentivado pela igreja, por juristas, por pedagogos, por psicólogos e nas mídias em geral. Mas a vida moderna possibilitou uma mobilidade das configurações familiares e novas formas de convívio vêm sendo improvisadas em torno da necessidade, podendo ser monoparentais, multiparentais, homoparentais e ainda assim não se alterou as responsabilidades da mesma.
É verdade que não escolhemos nossa família, nascemos e crescemos com pessoas que aos poucos se tornam (ou não) referências em nossa vida. Com frequência ouvimos que a família deve estar em primeiro lugar e junto desse discurso uma lista de comportamentos do que se deve ou não fazer para estar em harmonia. Isso é bom, mas acontece que em muitos lares o convívio é adoecedor.
A psicanálise lacaniana argumenta que a família deve ser entendida enquanto um complexo, sendo este algo que “reproduz uma certa realidade do ambiente”. Tais complexos desempenham um papel de organizadores no desenvolvimento psíquico tendo o sujeito consciência do que ele representa. É na família onde aprendemos a nos relacionar, criamos os primeiros vínculos e começamos a desenvolver nossa personalidade. Mas como sabemos, durante esse processo de desenvolvimento familiar, sempre haverá algum conflito ou trauma que marcará a vida do sujeito.
Famílias muito rígidas que não dão espaço para a mudança e o diálogo é escasso, famílias extremamente liberais que não dão limites, ou no caso de pais, cuidadores e filhos dependentes emocionalmente que não conseguem cortar o “cordão umbilical”, geralmente envolve um ganho secundário de uma das partes além do sentimento de culpa e medo, o que faz com que se torne um ciclo contínuo.
É muito importante parar de assumir os problemas da família como se fossem de sua responsabilidade. Não é uma postura fácil de assumir. Ao romper com esse ciclo ocorrerão mudanças e estranhamento por parte dos familiares em questão. Para algumas pessoas pode ser fácil se posicionar frente os problemas familiares. Para outras pode ser necessário acompanhamento psicoterapêutico.
A análise auxilia o sujeito a reconhecer os motivos que levam a adotar comportamentos nocivos que afetam no seu relacionamento familiar e padrões inconscientes que lhe impedem de romper com esse ciclo. No início, sensação de ansiedade, culpa e medo podem ocorrer, mas os benefícios aparecem ao longo do tempo.
Caso você esteja enfrentando algum problema parecido com o que foi descrito acima e não consegue lidar sozinho(a), procure um psicólogo mais próximo ou entre em contato pelo e-mail ou whatsapp.