Tédio como expressão da angústia

Tédio como expressão da angústia

O tédio é uma das raízes de angústia da contemporaneidade, quando sentimos tédio o tempo passa mais devagar e nos arrasta para um sensação de vazio. Surpreendentemente, em nossa cultura, estamos sendo interpelados a todo instante pelas novidades do momento e, principalmente, pela quantidade de redes sociais que nos ofertam: “compartilhe com amigos”, “o que você está pensando?”, “o que está sentindo?”, “jogue agora”, “assista isso”. Muita coisa para passar o tempo, né?

Essas redes sociais projetam no sujeito uma posição de receptor dos conteúdos produzidos, informação ou entretenimento, dando uma falsa sensação de que tem as decisões na ponta dos dedos, ou seja, aceitar ou recusar o que lhe é ofertado com um clique. Mas a gente sabe que toda essa “preocupação” é para que as pessoas queiram consumir seu conteúdo, assistam seus vídeos ou filmes, ria dos seus posts.

Quem nunca se assustou quando de repente o Google sugere em suas publicidades alguma coisa que você conversou com um amigo, pesquisou rapidamente sobre aquela viagem que pretende realizar, ou até postou alguma frase do seu autor favorito, e de repente, em todas as páginas que você acessa tem lá alguma publicidade pra você sentir vontade de clicar.

Mas voltando ao assunto do tédio, principalmente nesse período de quarentena em que algumas pessoas estão comentando, é comum vermos vídeos e relatos de pessoas que comeram toda comida que compraram em um dia, assistindo séries o dia inteiro na cama, ou fazendo qualquer outro tipo de atividade para passar o tempo mais rápido.

Já se perguntaram por que não sabemos lidar com o tédio? Por que nos causa uma sensação de vazio quando não estamos na continuidade da rotina que essa vida de representações nos demanda? Por que é tão angustiante a sensação de “não ter nada pra fazer”?

Algumas sugestões até surgiram pela internet para passar esse tempo de quarentena, mas acontece que essa sensação não passa, e sabe por quê? Por que no tédio estamos sempre na procura de algo que não sabemos o que é. Por isso, ficamos sempre em busca de coisas pra “matar o tempo”, começamos lendo algumas páginas de um livro, assistimos alguns episódios de uma série, comemos alguma coisa da geladeira, montamos um labirinto de dominós pras os cachorros, contamos a quantidade de grãos que contém em um quilo de arroz, e assim a criatividade humana não cessa, tudo para “matar ou passar” o tempo.

Por mais que preenchamos esse tempo, ainda assim, não é suficiente para saber o que realmente estamos procurando, Lacan chama isso de afeto de desejo de outra coisa que não se sabe o que é, e por isso, tentamos ocupar nosso tempo a todo custo. Ligado a esse “não saber o que fazer”, o sujeito vai buscar respostas no Outro, e esse Outro não cansa de lhe demandar coisa pra fazer! (lê-se Outro como: redes sociais, comida, sexo, trabalho etc.)

É um dos modos que encontramos para lidar com a ansiedade que o vazio nos provoca, e para evitá-la, tentamos preencher com coisas que nos afastam cada vez mais dessa angústia sem darmos conta que isso vai virando uma bola de neve até virar uma avalanche.

O tédio é mais uma expressão que a angústia nos convoca, também demonstra uma certa passividade ou apatia do sujeito com aquilo que o afeta no mundo. O desejo perpassa pelo tédio, ele se move na capacidade que o sujeito possui de elaborar e ultrapassar essa angústia, ou seja, saber ouvir o que essa angústia lhe provoca para, então, sair desse lugar de apatia, atravessá-la, se movimentar e se confrontar com o que realmente deseja para si.

Convido aqueles que estão nesse período de quarentena, sejam sozinhos ou em família, enfermos ou sãos, para se conectarem consigo e com seus semelhantes. Esse é um momento de cooperação, solidariedade e reconhecimento dos nossos laços sociais, é também um momento muito delicado em que precisamos nos proteger e proteger uns aos outros, enfatizando, nossa saúde física e a nossa saúde mental. Sei que para muitos o convívio muito próximo com familiares pode trazer ainda mais angústia, então aproveitem esse momento para observar e compreender suas relações e porquê elas te afetam tanto. E para aqueles que se sentem entediados, mais um apelo: Se ocupem! Não apenas das atividades cotidianas, mas se ocupem de si mesmos.

O tédio pode ser libertador!


Caso você esteja enfrentando algum problema, reconhece que seu sofrimento é parecido com o que foi descrito acima e não consegue lidar sozinha (o), procure um(a) psicóloga(o) mais próximo ou entre em contato pelo e-mail ou WhatsApp.

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Anna Carolina Cutrim
Psicóloga


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